Ressaca
Acordei bagunçado. Nas ideias, nas sensações físicas. A garganta em nó. Ainda sinto o gosto na boca. Não do mesmo jeito que antes. Já deveria estar acostumado. Afinal, não é a primeira vez. Era domingo. Dia mundial dos arrependimentos. E por que não seria? As noites de sábado tendem a ser as mais intensas. Ouço histórias de aventuras por aí. E 90% delas figuram o sétimo dia da semana. Acordei ainda em transe. A cama gigante se limitava a um pequeno espaço marcado, quente, mas não vazio. Havia uma presença desconhecida, mas familiar. Mais estranho do que via era o sentimento de pertence. Na hora, confirmei: não era a primeira vez. Levantei arrastado. O corpo pesado, as pernas mal se moviam. No espelho, uma imagem lamentável. O chuveiro, que se recusa a esquentar, era como um protesto silencioso. A água fria seria literal. Com sacrifício, cumpri os afazeres matutinos. Retornei ao epicentro da ressaca. Observei, entre nuances e silhuetas, tentando encontrar um motivo para resgatar...